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Homem atropelado na Marginal - TV24

Boa tarde,

Gostaria de fazer um breve comentário a esta notícia, publicada ontem no vosso site: http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/inem-ambulancia-acidente-atropelado-tvi24-marginal/1136152-4071.html

Título: «Homem atropelado na Marginal» Sub-título: «O acidente aconteceu quando o homem passeava de bicicleta»

Texto:

Um homem foi atropelado esta terça-feira, no Monte Estoril, concelho de Cascais, quando passeava de bicicleta na Marginal. O homem ficou ferido e foi transportado para o Hospital São Francisco Xavier disse fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), citada pela Lusa. A mesma fonte esclareceu que o homem, de 33 anos, «estava a andar de bicicleta na Marginal, na zona do Monte Estoril, quando se desequilibrou e caiu, acabando por ser atropelado por um carro que circulava sem grande velocidade». «O homem estava consciente mas desorientado, com um traumatismo lombar e um traumatismo craniano moderado», acrescentou. O alerta foi dado ao 12:55 e no local estiveram uma viatura de assistência médica do INEM, uma ambulância do Hospital de Cascais e os Bombeiros do Estoril.

Esta notícia é igual a muitas outras relacionadas com incidentes de trânsito. Contudo, e por envolver um ciclista, gostaria de chamar a atenção para alguns detalhes.

Vivemos numa sociedade centrada no automóvel, e nas pessoas que possuem e optam por se deslocar em automóvel. As restantes tendem a ser, por isso, prejudicadas: têm piores condições de conforto e de segurança nas suas deslocações, e têm uma imagem social desvalorizada, o que leva a perpetuar o ciclo vicioso ao levá-las a optar pelo carro quando têm condições para tal.

A sinistralidade rodoviária é alarmante em Portugal, nomeadamente a que envolve utilizadores vulneráveis (peões e ciclistas), e a maior causa da mesma é o comportamento inábil, incompetente ou simplesmente irresponsável dos motoristas. A solução não está em eliminar os peões e os ciclistas das ruas, muito pelo contrário, mas em controlar a causa dos acidentes: o excesso de velocidade dos automóveis, a falta de atenção dos motoristas, etc. De outro modo, as pessoas procurarão proteger-se do risco rodoviário optando pela maior e mais pesada “carapaça” que puderem e, logo, mais mortífera para todos os outros utentes das vias públicas, perpetuando e intensificando o ciclo de violência. Neste cenário, é frequente instigar no público o medo de andar a pé, de bicicleta ou em qualquer coisa que não seja um SUV gigante, piorando e reforçando o problema.

As pessoas que optam por se deslocar de bicicleta são negativamente discriminadas relativamente àquelas que optam por se deslocar de carro ou outro veículo motorizado, e o Código da Estrada é uma das matrizes legais para essa discriminação, ao conter alguns artigos que despromovem os ciclistas face aos motoristas.

Tudo isto conflui para a manutenção de uma imagem social dos ciclistas que os traduz com uma ou várias em simultâneo destas características: infantis, pobres, sem formação nem capacidades de condução de veículos, deslocando-se em contexto de lazer ou de desporto, irresponsáveis. Ao mesmo tempo que, por oposição, os motoristas são adultos, com rendimentos, formados e competentes na condução, a deslocar-se em trabalho ou para algo “útil”, responsáveis.

Estes estereótipos são cada vez mais falsos, e prejudiciais, pelo que importa combatê-los. Tal faz-se tendo um cuidado extra ao relatar episódios como aquele que foi objecto da notícia por vós publicada.

Posto isto, e relativamente à notícia em causa, gostaria de colocar as seguintes questões:

1) «O acidente aconteceu quando o homem “passeava de bicicleta”» é um facto ou é uma interpretação do jornalista? O que quero enfatizar é que “andar de bicicleta” é diferente de “passear de bicicleta”, tal como o é se o veículo em causa for um carro.

2) Se o carro que atropelou o ciclista «circulava sem grande velocidade» como é que conseguir atropelar o ciclista? Se não foi por excesso de velocidade terá sido provavelmente por não manter a distância de segurança que deveria manter de um veículo intrinsecamente instável como uma bicicleta, não será?

3) Porque é que o ciclista se desequilibrou? Algum obstáculo na via? Estava a ser ultrapassado perto demais por um automóvel e foi deixado sem espaço de manobra?

Esclarecer e especificar estas circunstâncias ajudaria a combater o estigma social que ainda afecta os ciclistas (e os peões). De outro modo, qual a relevância desta notícia? A TVI24 publica TODOS os incidentes com ciclistas? Ou só os que envolvem ciclistas E automóveis?

Agradeço a atenção dispensada.

Cumprimentos,

campanhas/media/observatorio/comentarios/comentarios.1265214590.txt.gz · Última modificação em: 2010/11/21 00:57 (edição externa)